28 de mar. de 2013

drama no mar do japão, na imaginação de uma brasileira


Fotos: Vanessa Vzorek
Fernanda Fuchs, na peça Corrente Fria, Corrente Quente, FOTO 1 Vanessa Vzorek
Com texto premiado, monólogo Corrente Fria, Corrente Quenteestreia no Festival de Curitiba. Gratuita, a peça acontece nos dias 29 e 30 de março na Casa Hoffmann, no Largo da Ordem
O encontro das correntes oceânicas Oyashio (do tipo fria) e Kuroshio (quente) provoca uma abundância de peixes no Japão. Mas, na cabeça da atriz e dramaturga Fernanda Fuchs, o encontro das águas gerouCorrente Fria, Corrente Quente, uma história premiada em 2013 com o terceiro lugar no Concurso de Contos Bunkyo, promovido pela Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e Serviço Social em São Paulo.
Transformado em monólogo teatral, com atuação de Fernanda e direção de Hermison Nogueira e Franco Fuchs, o espetáculo estreia na mostra Fringe do Festival de Curitiba. Com entrada gratuita, as apresentações acontecem na Casa Hoffmann, no Largo da Ordem, no dia 29 de março, às 17h, e no dia 30, às 19h.

Luta cotidiana pela sobrevivência


Em “Corrente Fria, Corrente Quente”, uma menina de Okinawa (província localizada no Sul do Japão) fala sobre o desaparecimento do pai, que saiu para pescar em alto-mar e nunca mais voltou. Para além do trauma, a montagem busca transmitir impressões sobre como era o cotidiano da garota. O peso da rotina e do trabalho ligado à pesca é evocado indiretamente, através da manipulação de sacos de juta, oriundos do Mercado Municipal de São Paulo. Os sacos são usados como adereços, objetos de cena e cenário, que criam um universo de sonho onde a história se desenrola, sempre a poucos metros do público.
Fernanda Fuchs, na peça Corrente Fria, Corrente Quente, FOTO 4 Vanessa Vzorek
Imaginário japonês

Nascida em Paranaguá e criada em Curitiba, a atriz e dramaturga Fernanda Fuchs nunca foi ao Japão. Sua peça foi criada então a partir do seu imaginário sobre a “terra do sol nascente” e com pesquisas sobre a geografia do Japão – em especial, sobre as correntes marítimas (Oyashio, Kuroshio) que afetam a pesca no país –, e sobre elementos culturais, como a gravura “A Grande Onda de Kanagawa”. “Nas pesquisas, me chamou a atenção a força das correntes marítimas, assim como dos terremotos e tsunamis no Japão, desastres que parecem ser encarados com naturalidade pela população”, conta Fernanda.

Biografia de Fernanda Fuchs


Fernanda Fuchs, 22 anos,  é atriz, professora de teatro, dramaturga, cantora e compositora. Desde 2011, faz parte da Companhia do Intérprete. Com esse grupo ela também se apresenta no Festival de Curitiba na peça Companhia Frazão. Estudou teatro com o diretor e ator Hermison Nogueira, atuando nas peças Aurora da Minha Vida eLíngua da Montanha, dirigidas por Nogueira. Estudou canto e voz com Alvaro Naldony, maestro do Coral da UFPR. Desde 2011 é aluna do Conservatório de MPB de Curitiba e estuda canto popular com a professora Ana Cascardo. Pós-graduanda em Gestão Cultural pelo Senac, é formada em Teatro pela Faculdade de Artes do Paraná. Participou de oficinas com Ricardo Puccetti e Carlos Simioni, do grupo LUME, e com Fernando Sampaio, do grupo LaMínima. Em fevereiro de 2013, com o texto Corrente Quente, Corrente Fria, Fernanda foi premiada em São Paulo com o 3º lugar no 1º Concurso de Contos Bunkyo.

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Autora e atriz de Corrente Fria, Corrente QuenteFernanda Caldas Fuchs fala sobre a sua peça.

Qual é a importância de o texto de Corrente Fria, Corrente Quenteter sido premiado no Concurso de Contos Bunkyo? E como foi a cerimônia de premiação em São Paulo?
FERNANDA CALDAS FUCHS – Além do reconhecimento de uma instituição, acho que o mais interessante é o texto  ter sido premiado por uma Sociedade de Cultura Japonesa. Acho que não foi por acaso, e de alguma maneira consolida essa minha parceria com o Japão. A premiação foi muito boa, emocionante, e pude conhecer várias pessoas do Bunkyo. Esse conto representa muitas coisas para mim. Não tem sido fácil transformar esse texto em uma peça de teatro e esse prêmio com toda certeza deu mais um gás para construir esse espetáculo.

É verdade que você escreveu Corrente Fria, Corrente Quente de uma só vez, numa espécie de fluxo de consciência?Sim. Eu sabia que tinha que escrever um texto, de alguma maneira eu tinha que contar alguma história. Em um dia pela manhã, reuni alguns materiais: músicas, imagens e dados sobre o Japão. Coloquei as músicas para tocar e, enquanto ouvia, fui escrevendo. Escrevi de uma só vez. Quando terminei, reli e modifiquei pequenas coisas. Não mudei a estrutura.

E como foi o processo de pesquisa anterior? Você teve a orientação de alguém? E o que você descobriu de mais fascinante sobre o Japão?      
Tive orientação do diretor Hermison Nogueira e de mais algumas pessoas do grupo Gruta, do Colégio Estadual do Paraná. O Hermison foi a pessoa que mais me enviou material: músicas, imagens, documentários e filmes sobre a cultura nipônica. Também fui ao consulado do Japão e pedi materiais. Entrei em sites e pesquisei sobre a geografia e a história do país. O que mais me chamou a atenção foi a força das correntes marítimas, assim como dos terremotos e tsunamis, desastres que parecem ser encarados com naturalidade pela população. É doido pensar que são milhares de ilhazinhas, pensar que você está ilhado, não tem espaço para o gado e é só peixe, arroz e chá. O Japão me passa um clima sombrio, não consigo achar ele muito alegre.

Você pensa em conhecer o Japão? Quem sabe apresentar a peça em Okinawa?Tenho um pouco de medo de lá. Mas, se pintar uma oportunidade, vou com toda certeza.

Você é de Paranaguá e seu pai trabalha no porto, certo? O porto de Naha, descrito por você no texto, tem algo do porto de Paranaguá?
É bem provável. Nunca fui ao Porto de Paranaguá, mas lembro que quando visitávamos a cidade sempre passávamos em regiões bem fedidas e lembro da mãe dizer que era por causa do porto; possivelmente, de algumas cargas que ficavam por lá. Sempre havia várias moscas e a desculpa era sempre o porto. Acho que são coisas que coloquei no texto inconscientemente.

Quais são alguns dos momentos que mais te tocam ou que você mais gosta em Corrente Fria, Corrente Quente?Gosto muito do barulho das ondas e dos ventos, presentes na montagem. Gosto de trazer as corrente marítimas para o espetáculo. Gosto quando o pai da menina diz que não gosta de peixe, mesmo ele trazendo sempre para a família vários frutos do mar. E me chama a atenção o fato de o pai ficar dois dias com a família e sete dias com o mar. O sete veio na minha cabeça. Não tenho muitas explicações para ele.

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3 de mar. de 2013



















Diretor teatral, músico e escritor. É formado em Artes Cênicas pela Faculdade de Artes do Paraná e em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. Dirigiu as peças O homem de Okinawa (2015) e Corrente Fria, Corrente Quente (de 2013 a 2016). Como músico, fez parte do grupo Monges da Lapa. Lançou os álbuns Franco das Camélias e os Lusíadas (2017) e Ao vivo no ampli do infinito (2016), disponíveis no blog www.francodascamelias.wordpress.com. Como jornalista, escreveu para veículos como Gazeta do Povo, Correio da Bahia, Revista Ideias, Jornal do Estado e Jornal Cândido. Foi um dos vencedores do IV Concurso de Contos das Livrarias Curitiba em 2012 e obteve a 2ª colocação no concurso jornalístico Mario Pedrosa, promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus. É autor de livros de Arte para alunos do Ensino Fundamental do Sistema Positivo de Ensino.

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