26 de jan. de 2008

+ Música
Tom Waits baixa num porão de Curitiba
No show “À espera de Tom”, que aconteceu na última terça-feira (22), Carlos Careqa reinterpretou canções do cultuado músico e ator americano


Carlos Careqa homenageia Tom Waits.


Estou no minúsculo e lotado porão do Wonka Bar, sentado, feito índio, no chão. Isso mesmo. Há um tapete no chão e almofadas espalhadas para que o público se acomode.

Perto da meia-noite, finalmente chega ao palco Carlos Careqa, acompanhado de Mário Manga (guitarra, violoncello e cavaquinho), Guello (percussão), Gabriel Levye (piano e acordeon) e Glauco Sölter (contrabaixo). Começa o show “À Espera de Tom”, em que Careqa reinterpreta as canções de Tom Waits e, como bom ator, faz o papel de um Waits tupiniquim, vestido de terno preto, camisa de seda vermelha, chapéu e óculos escuros.

Mas além da questão teatral de engrossar a voz e fazer pose de beberrão (com longnecks de antártica) para cantar as divertidas “Guaraná Jesus” (versão para “Chocolate Jesus”) e “Eu e meu cachorro louco” (“Rain Dogs”), Careqa consegue mostrar uma boa dose de romantismo em "Garota de Garulhos" ("Jersey Girl"), e chega a tornar-se lírico em “Boa Noite Matilda” (“Tom Traubers Blues”).

Ele pouco se importa também em quebrar esse mesmo lirismo com suas tiradas e provocações, que ocupam quase outra metade da apresentação. Na belíssima “Tempo” (“Time”), quando Guello arrebata gritinhos da platéia com seu solo na tabla, Careqa não perdoa: “É o Luau MTV!”

A certa altura, Careqa lembra que foi Raul Cruz – ator, diretor e artista plástico parnanguara, falecido em 1993 –, quem lhe apresentou ao universo de Tom Waits nos idos de 1985. “Vocês nem eram nascidos”, provoca Careqa, que lá pelas tantas não resiste em ver as almofadas e se atira ao público num performático stage diving. “Alguém aí se machucou?”, pergunta ele depois, desentortando os seus óculos.

Para o delírio dos curitibanos, no finzinho do show Careqa relembra o sucesso “Pipoca aos turistas”, que contém o famoso verso “Eu gosto de Cu... ritiba”, e fecha o bis com a incendiária “Psychokiller”, dos Talking Heads.

Ouça músicas do disco “À Espera de Tom” em: http://www.myspace.com/aesperadetom

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3 de jan. de 2008

+ Cinema
Bergman é presente de Natal
Cinemateca apresentou Fanny e Alexander, filme vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1983


Cena final de Fanny e Alexander. Depois de todos os dissabores, a avó Helena (Gunn Wållgren) lê a peça O Sonho, de Strindberg, para o neto Alexander (Bertil Guve).

Bem na semana natalina, tivemos Fanny e Alexander (1982) em cartaz na Cinemateca. Nada mais oportuno. O período combinou com uma característica do próprio filme, que começa numa véspera de Natal em 1907. Sem falar que foi um belo presente para os cinéfilos que permaneceram na cidade. Fanny e Alexander é um obra prima de Ingmar Bergman (1918 - 2007)

Sobre o filme
Fanny e Alexander se divide em duas duas partes. A primeira traça um panorama de uma tradicional família sueca que gravita em torno da rica matriarca Helena Hekdahl.

Helena tem três filhos: Carl, que é professor, Gustav, que é dono de um restaurante, e Oscar, que é diretor e dono de uma companhia teatral. Aos poucos, a personalidade de cada um desses filhos vai se revelando.

Descobrimos então que Carl, apesar do seu caráter brincalhão, se sente um derrotado, vive uma séria crise financeira, e é infeliz com sua esposa. Gustav, por sua vez, faz questão de manter a fama de mulherengo, mesmo que isso custe a gravidez de uma empregada, ou que, pela chegada da velhice, passe vergonha com crises de impotência. Sobre Oscar, percebemos que ele, já idoso, não está bem de saúde e é a sua morte que desencadeia a segunda parte do filme.

Oscar deixa a jovem esposa Emelie e dois filhos pequenos: Fanny e Alexander. Fragilizada, Emelie acaba casando com o bispo Vergérus, que logo se mostra um verdadeiro carrasco, tanto para a esposa como para as crianças.

Por que você deve assistir
Ao longo das cinco ou três horas de Fanny e Alexander (na versão original para a tv e na versão para o cinema, respectivamente) tem-se de tudo. Comédia e tragédia, pasmaceira e reviravolta, sonho e realidade.

Por essa capacidade de mesclar diversas situações com maestria, e também por Bergman utilizar vários elementos autobiográficos – ele quando pequeno era tão mentiroso quanto Alexander e também sofreu com a rigidez imposta pelo pai, que era pastor luterano – o filme torna-se uma obra imperdível do diretor, assim como O Sétimo Selo e Morangos Silvestres.

Para saber mais sobre o filme, entre em www.ingmarbergman.se. É o site mais completo sobre a vida e a obra do diretor.

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