24 de fev. de 2007



O museu adormecido
Em março, Museu Metropolitano de Arte de Curitiba completa um ano fechado. Atual inoperância é devido à falta do repasse de verbas pelo governo para a revitalização do espaço.


Com o descaso, MuMA vira “UMA”. O primeiro “M” há muito já caiu e não foi reposto.

Que ninguém empresta livro, vê exposição ou teatro, dá xeque-mate ou tem aulas de educação artística nas dependências do Museu Metropolitano de Arte (MuMA), localizado ao lado do terminal do Portão, já vai fazer quase um ano. Que ninguém assiste a um bom filme, aí então nem se fala. O cinema está fechado desde 2000. Isso mostra quantas potencialidades possui o MuMA (que reúne biblioteca, salas de xadrez e de arte-educação, três espaços para exposições, mais o teatro Antônio Carlos Kraide e o Cine Guarani) e como elas vem sendo anuladas pela má administração pública.
Desde março de 2006, toda a estrutura do museu encontra-se inoperante. Isso, a princípio, seria por uma boa causa. O MuMA foi esvaziado para poder receber reformas no valor de um milhão e meio de reais oriundos do Fundo de Desenvolvimento Urbano (FDU). Além de reparos estruturais, o museu ganharia computadores para a sua biblioteca, uma brinquedoteca para a criançada e teria o Cine Guarani reaberto, transformado num cinema digital.
Todavia, tais benfeitorias não chegaram a sair do papel e o museu continua parado e vazio. Segundo o assessor de imprensa da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Paulo Krauss, o motivo das obras nem ao menos terem começado é que o governo, através da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (SEDU), simplesmente não quis liberar o dinheiro do FDU, assim como ainda não liberou mais de R$ 40 milhões para outras obras públicas, apesar desses valores já terem sido aprovados.
Essa medida, segundo Krauss, seria uma forma de retaliação política imposta pelo governador Roberto Requião ao prefeito Beto Richa, por este ter apoiado Osmar Dias na última eleição. Já o governo, através de sua assessoria de imprensa, nega que haja qualquer tipo de retaliação e diz que os convênios com o FDU estão suspensos momentaneamente por estarem sendo realizadas “reformas no plano administrativo”. Krauss afirma que a FCC já não conta mais com as verbas do FDU e por isso começará a estudar outras formas de financiamento para a revitalização do museu.


Com o MuMA vazio, os únicos atuais freqüentadores do espaço são os casais de namorados.

Mudança de status

De acordo com Paulo Krauss, depois de reformado o MuMA, a intenção é que ele volte a ter o seu antigo status de “centro cultural”, ao invés de museu. “Quando em 1996 o prefeito Rafael Greca mudou o nome do Centro Cultural Portão para Museu Metropolitano de Arte de Curitiba, a intenção era boa. Era um tentativa de suprir a falta de um grande museu de arte em Curitiba. Até o nome ‘MuMA’ foi pensado para soar como o MoMA (Museum of Modern Art) de Nova Yorke. Só que montar um acervo de porte, trazer exposições de relevo, enfim, isso é coisa que não se consegue do dia para noite; demanda tempo, empenho, dinheiro, e isso não aconteceu assim”, explica Krauss, que também lembra que, com a criação do Museu Oscar Niemayer (MON) em 2002, e os investimentos maciços das estatais nele, o MON acabou “roubando” a atenção do MuMA. “Nossa idéia agora não é que o MuMA concorra com o MON, mas que seja um parceiro dele. O MUMA passará a ser parte do Centro Cultural Portão, que terá uma função de difusão cultural como um todo”.
Porém, mesmo que o MuMA passe a receber novamente a alcunha de centro cultural, é difícil que ele atinja os moldes de um centro cultural como o Teatro Guaíra, por exemplo. Questionado se o novo Centro Cultural Portão teria uma autonomia e uma grandeza equivalente, Krauss respondeu que não, pois isso exigiria verbas mais polpudas e contratações de funcionários para ocuparem cargos de superintendente, diretor artístico, etc., algo que a FCC não conseguiria bancar.
“O que faremos com o MuMA será remanejar funcionários da FCC para coordenar o espaço”, revela Krauss. Ele ainda fala da possibilidade de que sejam abertos editais, como no caso do teatro Novelas Curitibanas, reinaugurado recentemente, para que artistas possam montar peças subsidiadas no teatro Antônio Carlos Kraide. Com relação ao Cine Guarani, existe a idéia que o espectador aos domingos pague somente um real, (como já vem acontecendo nos cinemas da FCC) e que isso valha como o pagamento da passagem de ônibus (que aos domingos também já custa um real). Resta esperar, sabe-se lá até quando, e ver o que acontece.


Escultura de Tomie Ohtake também sofre com as pichações.
Histórico do MuMA
O Centro Cultural Portão foi inaugurado no dia 5 de maio de 1988, com o objetivo de dotar a cidade de um espaço adequado para a guarda e exposição do Patrimônio Municipal de Artes Plásticas e abrigar acervos incorporados à Fundação Cultural de Curitiba, através de doações ou comodatos, como o acervo doado por Poty Lazzarotto.
O local, projeto do arquiteto Marcos Prado, para ser o Centro Comercial do Terminal de Transporte Coletivo do Portão, foi recuperado, reciclado e adaptado, em 1987, pelo arquiteto Leonardo Afonso Brusamolin Júnior, que manteve as características do projeto original. O complexo, além de abrigar o Museu Municipal de Arte, passou a oferecer espaços para biblioteca, cinema (Cine Guarani), auditório (Antonio Carlos Kraide), oficinas e ateliês.
Em 26 de agosto de 1996, todo o complexo do Centro Cultural Portão passou a denominar-se Museu Metropolitano de Arte de Curitiba (MuMA). O espaço ganhou três salas de exposições – “Sala do Acervo Permanente”, “Sala Célia Neves Lazzarotto” e “Sala de Exposições Temporárias” –, além de duas reservas técnicas destinadas a armazenar e preservar seu acervo.
Dentre as principais exposições que passaram pelo MuMA, destacam-se as de artistas como Andy Warhol, Max Ernest, Rodin, Escher, Anita Malfati e Poty.

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